Era
uma tarde nublada quando Clariana tocou no caderno pela primeira vez. Sim, o caderno. O caderno era o bem mais
precioso de Claria. Não conseguia imaginar o que seria de sua vida se tivesse
de viver sem este. E as vezes a garota se perguntava como um mero objeto
inanimado pudera, de um momento para outro, mudar sua vida totalmente. Sua mãe,
seus avós, e até mesmo seus amigos normalmente se referiam ao caderno como “Aquela
coisa suja e surrada que a Clariana não larga!”, ou como seu pai dizia “O
Diário da Princesa Clariana”...
Porém Claria preferia chama-lo de
Caderno dos Sonhos
- Papai,
posso brincar lá fora? – perguntou a garotinha agitada. Os cachinhos negros de
seu cabelo se mexendo de um lado para o outro enquanto a menina pulava.
- Não, Claria, hoje não. Está chovendo,
querida! – respondeu o pai abrindo um sorriso amistoso para a filha e erguendo-a
até seu colo.
- Mas por que não podemos brincar
na chuva, papai? – a menina ainda insistia.
- Porque ficamos todos encharcados
e doentes depois! – respondeu o pai fazendo a filhinha explodir em gargalhadas
com as cócegas que fazia.
- Mas papai... O que eu vou fazer
se não posso brincar lá fora? Aqui dentro é muito chato!
O homem passou os dedos por sua barba
semi-grisalha, pensativo. Seus olhos se iluminaram.
- Já sei! Tenho uma coisa para
você, querida. Espere aí. – dizendo isso, levantou-se da poltrona e seguiu até
o fundo do corredor.
Quando o pai retornou à sala de
estar, tinha em mãos um objeto retangular, algo como um livro, com a capa
marrom já gasta e um pouco desbotada. Este estendeu levemente à filha.
- O que é isso, papai? – perguntou a
criança.
- Isto, querida, é um caderno. Um
caderno de desenhos.
- Eba! Posso desenhar nele? – Os olhos da menina brilhavam.
- É claro, pequena! Mas
lembre-se: este não é um caderno de desenho qualquer. – os dedos do homem
acariciaram os cabelos da garota.
A menina parecia confusa.
- Este, Claria, é um caderno Mágico!
- Mágico?
-
Sim, este é o Diário da Princesa Clariana! Por isso ele é mágico e muito
especial.
A garota encantava-se cada vez mais a cada palavra dita pelo pai.
- E o que eu tenho que fazer para
a mágica funcionar, papai?
- A mágica vai acontecer. Mas você tem que se lembrar de apenas desenhar
seus sonhos nesse caderno, ok? Se não a mágica não funciona.
- Mas papai... Isso quer dizer que só vou poder desenhar depois de
acordar? Mas e se eu não me lembrar do meu sonho?
- Um sonho não apenas aquilo que você vê quando dorme, pequena Claria. –
disse o pai, seu sorriso cada vez mais caloroso e acolhedor.
- Então o que é um sonho, papai? – perguntou a garota curiosa.
- Essa é uma tarefa que deixo a você descobrir. É isso que vai fazer a
mágica acontecer.
***